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Maha-Ioga – A Verdade Universal (preview)
A iniciação silenciosa do Avatar Sri Ramana



Em 1938, quando eu tinha apenas três anos de idade, meus pais perceberam que eu não era uma criança comum. Sentado na postura de lótus, eu permanecia em profunda meditação, desligado do mundo material.

Somente três anos depois, quando fiz seis anos, meus pais resolveram levar-me à presença de Bhagavan Sri Ramana, que vivia no sul de Madras, em uma aldeia chamada Tiruvannamalai, aos pés de Arunachala, a montanha sagrada.

Na mesma manhã de minha chegada e pouco antes do passeio habitual de Bhagavan pelo monte de Arunachala, entrei no salão do Ashram.

Havia ali vários devotos, todos hindus, sentados em fila. Eu estava profundamente impressionado com a força espiritual que emanava do lugar. Fui conduzido para perto de Bhagavan. O mestre levantou-se e olhou-me, fazendo um gesto com a mão para que eu me aproximasse.

Senti que estava em presença de um grande iluminado. A sua face inspirava serenidade, infinita bondade e compreensão. Inclinei-me perante sua grandeza espiritual, e ele disse-me sorrindo: “parece que fostes chamado”. Tive a graça de contemplá-lo pela primeira vez. Ramana tinha estatura normal para um hindu do sul; cerca de um metro e noventa; uma tez cor de mel; cabelos brancos bem curtos e barbas brancas. Era robusto e usava uma túnica muito alva. Senti nele um ser infinitamente bondoso e de amor sem fim.

Logo o mestre se absorveu em profunda meditação. Os seus grandes olhos negros contemplavam o infinito por cima das cabeças de todos os presentes, e seu olhar, sem concentrar-se em nada ou ninguém, penetrava no mais íntimo do meu coração.

Então comecei a escutar com muita atenção o silêncio que rodeava o sagrado avatar, e compreendi estar diante do Ser Universal em forma humana.

A vida simples do Ashram passou a auxiliar-me muito na procura do ser interior. Várias vezes mergulhava profundamente neste bem-aventurado estado.

A própria atmosfera do lugar impregnava os pensamentos positivos dos devotos que procuravam a união com a sua realidade natural. De acordo com o sad-guru, tornava a mente introspectiva e favorável a essa procura.

A força invisível da sagrada montanha Arunachala impregnava todo o ambiente de elevada emanação espiritual.

Nas vésperas de Kakthikai, oportunidade em que, uma vez por ano, se acende uma tocha no cume do monte Arunachala, uma grande multidão estava presente para o acontecimento, e nós do Ashram ficamos sentados no pátio do salão. Bhagavan estava reclinado sobre um sofá.

Subitamente, ele se endireitou e me encarou com seu olhar penetrante, que adquiriu uma intensidade indescritível. Desceu então sobre mim uma quietude, uma paz profunda, uma leveza e felicidade.

Desse dia em diante, uma afeição profunda por Bhagavan começou a surgir e crescer em meu coração, que sentia o seu poder e beleza espiritual. Tomei então consciência de que Bhagavan começou a surgir e crescer em meu coração, que sentia o seu poder e beleza espiritual. Tomei então consciência de que Bhagavan não era um mestre comum, mas um maha-iogue, um sad-guru universal. Na manhã seguinte, pela primeira vez sentado à sua frente, experimentei a auto-indagação – aham-aham (quem sou eu?) – e imaginei que eu próprio havia resolvido prática, pois estava longe de sentir que a iniciação havia sido feita através do seu olhar, que me havia vivificado, vitalizado e transformado a minha atitude mental.

À medida que convivia com Bhagavan, observei que ele sempre parecia estar bastante atento com o que se passava ao seu redor, reagindo de acordo com a vida exterior, mas eu sentia claramente que o seu ego real – o ser, como ele o chamava – não participava das ações e funções exteriores.

Algum tempo depois compreendi que, de acordo com seus próprios ensinamentos, este plano de existência física era para ele como um sonho temporário que não tinha realidade em si mesmo. Compreendi, também, que se eu não conseguisse realizar essa verdade em mim com relação ao exterior, jamais poderia alcançar a consciência do Ser Universal.

Meu afeto e devoção por Ramana Bhagavan continuavam cada vez mais profundos e eu sentia uma felicidade infinita, que era a graça e o mistério do sad-guru. Diziam-me que ele era o elo entre o céu e a terra, entre Brahman e eu, entre o Ser Sem Forma e o meu coração espiritual (lado direito do peito). Tornei-me consciente da enorme graça de sua presença; pois até mesmo exteriormente, manifestava-se a graça: seu sorriso carinhoso era um sinal para que me sentasse no salão, num ponto onde ele pudesse vigiar-me durante a meditação.

Certo dia, Ramana disse-me: “O silêncio é a mais poderosa forma de ensinamento transmitido de mestre a discípulo. A voz sem som é a intuição pura, é a voz do som espiritual que fala no mais íntimo do nosso ser e nos revela a natureza original do Criador do cosmo”.

Imediatamente senti a absoluta certeza de que todo o conhecimento a alcançar seria simplesmente assimilado da sagrada presença de Bhagavan Sri Ramana, pois eu captara a verdade suprema: ele era o elo com o Ser Sem Forma.

Comecei, então, a sintonizar-me com o sentido da sua upadesa (instrução espiritual). Compreendi por que seus devotos o chamavam Bhagavan (nome de Deus).

Tudo agora dependia de minha atitude. Eu sabia que a luz da iniciação, a penetrar em meu ser, seria de acordo com o meu merecimento. Eu devia desenvolver cada vez mais o controle de meus pensamentos para poder abrir a minha mente às sutis vibrações ininterruptamente irradiadas por Bhagavan Ramana.

O que impressionava era a sua atitude tão natural que punha todos à vontade, removendo em cada um toda e qualquer análise ou crítica, envolvendo a todos no mais puro amor universal.

No início de 1944, surgiu a urgência de viajar para o Ocidente. E Bhagavan disse-me: “No Ocidente, farás a maha-ioga entre os homens de boa vontade”.

Trouxe comigo um retrato feito a lápis de Bhagavan que eu mesmo tinha desenhado dias antes da viagem. O mais extraordinário retrato que já desenhei em minha vida. Mostrei-o a Bhagavan Sri Ramana. Ele tomou-o em suas mãos e a seguir devolveu-o, dizendo: “Está levando Bhagavan com ele...”.


(Extraído do livro "Maha-Ioga - A Verdade Universal", de Sri Maha Krishna Swami)


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