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O Consolador (preview)
Capítulo I - A inconsciência dos homens



Os homens estarão em estado natural quando
olharem para os rios e sentirem-se parte deles,
sentirem-se como a água que corre para o mar;
quando olharem as flores dos campos e
perceberem nelas mais que o perfume e as cores,
perceberem nelas um oceano de paz, uma porta
para se integrarem conscientemente com a
Verdade; quando ouvirem o canto dos pássaros e
compreenderem o que eles dizem sobre a
sabedoria manifestadora do Sol, a benevolência
das chuvas e a vasta natureza do Universo.

                                                               SMKS



Através dos séculos, a maioria das pessoas têm sido programadas pelos falsos valores sociais que incentivam o egoísmo, os vícios, as competições, que exaltam o ego e humilham o semelhante, transformando até mesmo a caridade em motivo de ostentação e orgulho. Esses valores distorcidos geram o total desconhecimento da Verdade Suprema. É por isso que se vê o homem tratando com indiferença seu próprio semelhante. Nesse estado de desregramento ele consegue aniquilar um número incalculável de espécies de seres, consegue poluir o planeta inteiro, causando danos irreparáveis. Fabrica armas capazes de destruir o mundo todo, mostrando assim a falta de amor e a irreverência às leis divinas.

Esta humanidade deixou-se contaminar pelo vírus da autodestruição, indo contra todos os princípios divinos. Os valores estão todos invertidos. O que parece civilizado já não o é. O homem ataca e expulsa os seres que ele imagina serem primitivos. Ele ataca, destrói e se diz civilizado. Se o mundo vive momentos difíceis, são os homens mesmos que sofrem as conseqüências, pois foram eles que semearam a desarmonia, a destruição. Tudo aquilo que provocaram está agora recaindo sobre eles mesmos.

Guiados por idéias preestabelecidas, os homens organizam suas vidas baseando-se somente em bens materiais. Deixam-se hipnotizar pelo mundo ilusório, não utilizam o discernimento, a intuição pura, que fazem parte do seu estado natural, e tornam-se inconscientes dessas virtudes. Aqueles que assim vivem afirmam existirem muitas verdades. Cuidado com essa blasfêmia. A Verdade é una. Quem tenta adaptar a Verdade Absoluta a seus interesses pessoais criando para si uma verdade particular é mentiroso e usurpador.

Os homens mentem a si mesmos. Criam conflitos internos e muitas desculpas para não se conscientizarem da Verdade que provém do Cristo de todos os tempos. Eles enganam-se constantemente fazendo de conta que são incapazes de se identificarem com a fonte suprema da verdadeira vida. Insistem em ver somente através dos olhos e ouvir apenas com os ouvidos. Menosprezam a Essência Divina e dessa forma vivem limitados pelo corpo, pelos pensamentos, pela ignorância espiritual.

Por ser inconsciente de sua unidade com o Ser Supremo, o homem tornou-se o pior inimigo de si mesmo. Ele age exclusivamente pelo raciocínio mental e, como a mente é desarmonizada, o resultado de suas ações só pode ser desarmonioso. Assim surgem sofrimentos que são totalmente inúteis. Aquele que nutre pensamentos indignos, que vê a natureza apenas como um jogo de forças, que acredita somente nas coisas materiais, vive hipnotizado pela dualidade do mundo ilusório e por isso permanece ignorante do conhecimento supremo. É enganado por sua vaidade, deixando-se dominar pelo egoísmo, pela brutalidade, pelo apego ao sofrimento. É constantemente movido pelos gostos e desgostos, simpatias e antipatias, e suas esperanças concentram-se em coisas supérfluas.

O grande problema desta humanidade é ter esquecido as leis divinas. Tudo é feito visando a interesses particulares, cada um vendo apenas o que é melhor para si mesmo, não se importando se prejudica seus semelhantes. Ao invés de se utilizarem os meios disponíveis para sempre progredir no processo evolutivo, o que se faz é transgredir as leis universais, afastando-se cada vez mais da Verdade Suprema. Isso tudo reflete a inconsciência espiritual que predomina entre os homens da Terra.

Por estarem sob o domínio da ilusão, grande parte das pessoas são doentes psiquicamente. Possuem acúmulos psíquicos em todos os aspectos, pois têm a mente sobrecarregada por suas ações passadas. Autoprogramam-se erroneamente. Foi criado um sistema que obriga a maioria das pessoas a usufruir o máximo possível daquilo que aprendeu, visando só a ganância e aos poderes materiais. Os homens estão de tal forma hipnotizados pela matéria, pelos grandes empreendimentos, pelos estudos das coisas ilusórias, que não lhes sobra tempo para se dedicarem aos sagrados ensinamentos trazidos pelo Consolador Prometido. A época atual é de trevas, de desesperos, de quebra total das estruturas, de ruptura brusca de valores, e as pessoas não se apercebem da necessidade de seguirem um caminho espiritual capaz de levá-las a uma condição melhor de existência. Elas aprendem a atingir apenas a materialidade do mundo e aceitam a vida física como a única existente. Falam em grandes empreendimentos e teorias de toda espécie. Vangloriam-se até pelo fato de a espiritualidade não exercer o papel de guia em suas vidas.

Vítimas da ignorância espiritual, os homens, ao invés de se libertarem espiritualmente, criam laços que os escravizam, como o desejo de possuir coisas, emaranhando-se cada vez mais na corrente infindável dos desejos. Aceitam a decadência como algo muito bom, pois confundem-na com progresso, com evolução. Enquanto insistirem nessa falsa idéia, continuarão presos pelos sofrimentos e lhes será muito dificultoso tornarem-se conscientes da Verdade Suprema. Quem vive na ignorância espiritual atrai para si os pensamentos negativos, e com eles aparecem a desarmonia, a inveja, a cobiça, a obscenidade, o ódio. É muito sutil a Essência Divina, e ela não pode ser sentida por quem está iludido pelos envoltórios grosseiros do ego profano. A solução para os problemas está em a pessoa pesquisar-se internamente e conscientizar-se, assim, do Ser Supremo. Nesse ponto ela encontra a solução para seus sofrimentos. É uma procura interna e nada pode interferir nela. E assim o homem conscientiza-se de sua unidade com a Verdade Absoluta.

A maioria das pessoas pensam existir apenas para usufruir os prazeres mundanos, iludidas por uma felicidade momentânea a aparente. Quando imaginam encontrar a felicidade seguindo o caminho dos prazeres, distanciam-se cada vez mais da perfeita felicidade, porque estão fugindo de si mesmas, vivendo de maneira contrária à sua própria essência, a divina.

Aquele que está dominado pelo desejo jamais poderá expressar as virtudes divinas, porque se identifica com as coisas dos sentidos e está em desacordo com as leis universais. O corpo e a mente pensante causam os desejos, as emoções, e o homem fica preso em seus poderes, impedido de sentir a Força Suprema, afastado de sua verdadeira identidade e condenado a longos períodos de sofrimento. O homem, sendo o Ser Supremo, tem poder sobre tudo isso e deve, portanto, não se deixar invadir por essas forças usurpadoras. Ele deve viver livre das convenções do mundo da matéria, que se mostram irrelevantes quando devidamente examinadas.

A maioria dos homens deste planeta dificilmente entende a necessidade de se estar aos Pés do Sat Guru Deva, isto é, de ser submisso à Vontade Suprema, de se deixar orientar pelo Consolador para se viver de acordo com as leis universais, deixando fluir em si mesmo a Força que Age. É preciso que se compreenda que este planeta é apenas uma escola, onde se pode aprender como se libertar de todos os laços que prendem o homem ao infindável ciclo de nascimentos e mortes. Esse ciclo é ilusório, mas aquele que não se liberta dessa miragem permanece neste mundo de ilusão por tempo indeterminado. Os ciclos de nascimentos e mortes existem pelo fato de o homem atribuir realidade àquilo que é irreal. Esse falso posicionamento é produto da mente pensante, que provoca a identificação com o corpo e desperta o desejo pelos objetos dos sentidos.

O ser humano dá especial importância à especulação mental e intelectual, criando uma infinidade de desculpas, dizendo que é incapaz de identificar-se com o Ser Supremo. Vive sempre em argumentações, em especulações, em concordância ou discordância em relação àquilo que considera certo ou errado. Cria seus valores próprios e assim nunca encontra a realização do objetivo de sua vinda à Terra. O intelecto também provém da ignorância espiritual. Ele não é de nenhuma utilidade para quem tem como objetivo a plenitude do conhecimento, uma vez que este é sentido pela intuição pura, sendo, por isso, impossível de ser analisado ou aprendido pelas faculdades mentais. Iludida pelo intelecto, a pessoa poderá envolver-se inutilmente com um amontoado de literatura a respeito da divina conscientização, pensando que sua erudição possa determinar sabedoria.

Muitos não compreendem por que o conhecimento do mundo exterior de nada vale quando se pretende conscientizar-se da Verdade Suprema. Ficam desapontados quando têm que desaprender aquilo a que muitas vezes estão apegados. Porém ignoram que cada coisa aprendida com a mente pensante e com o intelecto é como se fosse um nó na mente que a pessoa tivesse dado. Cada nó é um limite que ela se impõe. É preciso desatar cada nó e libertar-se das limitações. Só assim a intuição pura aparecerá e possibilitará viver a verdadeira sabedoria. O conhecimento adquirido através da meditação iniciática provém da Verdade Suprema e nada tem a ver com aquilo que se aprende do mundo ilusório. Esta é a razão da necessidade de se desaprender aquilo que é irreal. É impossível conciliar a sabedoria adquirida no caminho espiritual com as idéias obtidas pelos processos mentais.

A maioria dos homens confunde sabedoria com conhecimento intelectual. Aqueles que apenas conhecem intelectualmente o mundo distraem-se com a ilusão, e de seu conhecimento nada se aproveita no caminho da autoconscientização. A mente pensante, o intelecto, quando não transformados em veículos espirituais, ocultam a Verdade Suprema. Somente quando essa Verdade é conscientizada é que ocorre a destruição do falso conhecimento. De nada serve ao homem ocupar-se de questões misteriosas, obscuras, pois essas teorias são inúteis ao conhecimento do Ser Supremo. O sinal de sabedoria, de perfeição é conhecer a si mesmo.

As pessoas estão sempre dispostas a adquirir conhecimentos do mundo exterior. Preferem algo obtido com muito esforço, que no final redundará em nada, pois é evidente que todo o conhecimento adquirido através da mente pensante, por maior que pareça, não pode ser a essência do saber. O homem, intoxicado por esse tipo de informação, torna-se vítima das expressões de sua própria mente. O maior erro de qualquer ser humano é insistir em ignorar as leis divinas.

A ignorância espiritual faz parte do ego, da mente, e apenas quem vive no estado natural de meditação não é afetado por ela. Enquanto não se eliminar de vez a sensação de se viver através da mente pensante, a ignorância espiritual persistirá, por mais que se queira provar o contrário. Pela ignorância as pessoas se esquecem de que são o Ser Supremo e por isso vivem constantemente em erro. Gostam daquilo que é misterioso e difícil de ser alcançado, porém rejeitam o caminho direto que as conduz ao pleno conhecimento de si mesmas. Insistem em ser enganadas pela mente pensante, pela ignorância espiritual. Esse é um comportamento anormal, de uma doença que ataca a maioria dos habitantes da Terra, os quais estão de posse de uma mente analítica, de um intelecto desenvolvido que não lhes permite conscientizar-se da Verdade Absoluta.

Desapegando-se do Efêmero


Jamais se deve dar vazão à mente analítica, mas sim refugiar-se nos ensinamentos do Consolador. Só assim é possível viver a suprema paz e a perfeita sabedoria que provêm do estado natural de meditação. Muitos são atraídos pelos mistérios do mundo e se recusam a seguir sinceramente aquilo que os Sagrados Mestres trazem como meio de libertação das dores. Os Mestres lhes propõem a consciência do divino, mas os homens preferem viver assediados pela escravidão de querer coisas, envolvendo-se em conversas frívolas, como o falar e pensar a respeito daquilo que amam ou que os contraria, vangloriando-se como heróis e fortes ou colocando-se como vítimas inocentes e injustiçadas diante das situações quotidianas da vida. Desconhecem, no entanto, que a causa da miséria humana é o apego aos objetos, é a sua ambição e a sua sensualidade. Vivem apenas para satisfazer seus instintos e assim acumulam em si mesmos toda espécie de negatividade. O intenso desejo é a causa de seus sofrimentos; sua tristeza e medo nascem pela afeição que têm ao mundo ilusório. Eles não conseguem perceber que o prazer e a dor fazem parte do jogo de expressões da mente pensante e do ego profano e por isso tornam-se incapacitados para se desapegarem deles.

Aquele que vive à procura de prazeres confunde a falsidade com a Verdade. Ocupa-se apenas em alimentar o corpo e está sempre em desacordo com as supremas leis universais. Não se esforça para libertar-se da ignorância espiritual e lamenta-se muito quando cai vítima de sua própria displicência. Passa a vida toda observando o mal de seus semelhantes e não se empenha em eliminar suas próprias distorções. Procura agir sempre de acordo com as tendências passageiras de cada época, com pensamentos futuristas, mas nunca vive o eterno presente. Segue modelos de comportamento baseados em outras pessoas, nas quais se inspira: um artista, um escritor, ou alguém que admira. Está sempre imitando aquilo que os outros fazem e dificilmente age por si mesmo. Cultua formas, espaços, tempos inexistentes e vacila em despertar para a Verdade Suprema, preferindo viver inconsciente de sua real identidade. Está constantemente à procura de algo que chama de felicidade. Porém, confunde felicidade com prazer, ou com a felicidade efêmera, que depende de algo exterior.

Os prazeres que o mundo oferece, por maiores que sejam, nada têm a ver com a felicidade perfeita. Essa é a razão de o homem estar constantemente em busca de algo que ele imagina haver perdido, e que lhe pertence, ou que é a sua verdadeira natureza. Por isso vive lamentando-se, reclamando de tudo o que lhe acontece ou do que não lhe acontece. Experimenta apenas uma ilusão daquilo que pensa ser a felicidade que procura. Ao invés de sentir-se feliz, harmonizado, cria cada vez mais infelicidade para si mesmo. Perturba-se e atormenta-se pela falta que sente de algo que faz parte de sua própria razão de ser. Quando se depara com um Mestre, ataca-o com milhares de perguntas para poder aliviar o peso dos sofrimentos causados por uma vida totalmente contrária aos ideais divinos. Porém, não é raro que, ao invés de aprender a harmonizar-se com a paz e sabedoria que o Mestre transmite, analisa-o, critica-o e deixa passar a oportunidade discernimento de aprender com ele a resolver definitivamente seus problemas.

Somente se sintonizando com o Ser Supremo é que o homem começa a ter uma concepção exata da Eterna Consciência do Cosmo, porém jamais conseguirá obtê-la enquanto cultivar sua pequena personalidade. É preciso afirmar o Cristo Universal no lugar do ego profano. Isso é conseguido pelas técnicas da meditação e devoção iniciáticas que o Consolador bondosamente revela aos homens. Aquele que se dedica sinceramente a esse sagrado caminho encontra a harmonia e a paz que estão além da compreensão humana. É preciso que cada um adquira a coragem par afastar os falsos personagens que lhe roubam a chance de sentir a felicidade perfeita, a qual não provém das emoções do ego, mas sim da sua condição de Ser Supremo.

O homem deve despojar-se da mente pensante, das presunções intelectuais e da idéia de personalidade individual. Se ele insistir no caminho dual deverá, após estar nele por algum tempo, retornar ao ponto de partida e iniciar sua jornada em direção à divina conscientização. E quanto mais rapidamente conseguir desaprender aquilo que lhe é inútil, maior será a sua capacidade de adquirir a verdadeira sabedoria. Com o poder da sabedoria é possível destruir todas as dúvidas que provêm da ignorância espiritual e firmar-se na Verdade Absoluta. Quem se conscientizar dessa Verdade estará em plenitude de conhecimento universal, que consome todos os efeitos das ações negativas.

Sem a meditação iniciática, o que se praticar serão meros exercícios ou palavras, que não servem em absoluto para a autoconscientização. Os textos sagrados que os Mestres deixaram estimulam os homens a colocarem em prática a essência de cada ensinamento, mas a preocupação maior das pessoas é apenas ler, decorar, repetir, esquecer, ler novamente. É a mesma coisa que ler a receita dada pelo médico mas não tomar o medicamento. Dessa forma ninguém se cura da ignorância espiritual.

Somente se dedicar à leitura de livros que falam sobre o divino não traz a sabedoria suprema. Ela é conseguida pela prática da meditação e da devoção iniciáticas, orientada por um Mestre que já tenha conscientizado essa Verdade em si mesmo. Se a pessoa desatar os nós mentais provocados pelo falso conhecimento, se tiver confiança total no Mestre e colocar em prática os sagrados ensinamentos, terá a chance de permanecer no estado natural de meditação, onde somente a paz e a harmonia são encontradas.

As indagações mentais, as teorias intelectuais, não são importantes no caminho direto da conscientização espiritual. Importante é a prática da meditação e da devoção. Este é o verdadeiro treino que conduzirá ao conhecimento da Verdade Suprema. A meditação não é apenas um exercício a ser praticado. Com ela, recebe-se muita força, Luz, bênçãos e, com perseverança, pode-se permanecer no estado de sahaya, isto é, de meditação natural.

Quem experimenta o sagrado efeito da meditação iniciática vive na paz suprema, na perfeição, na essência da Luz. Porém aqueles que cultivam a mente pensante jamais encontrarão sossego onde quer que estejam. Se o homem não se conscientizar do divino, sua vida física nunca terá repouso, por mais que ele pratique atividades benéficas ou ações caridosas. Tudo o que ele tem a fazer é conscientizar-se da Verdade Suprema e não se envolver com as expressões da mente pensante e das emoções. Todos devem viver no estado natural de meditação e jamais trocá-lo pela escravidão da mente, dos sentidos, dos desejos.

A manifestação é temporária. Ela aparece e desaparece e por isso não é real. Somente o Ser Supremo, que é eterno e presente, vale a pena ser vivido. Ao se conscientizar do Ser, realizam-se todas as virtudes divinas e entra-se em grande harmonia com os semelhantes e com as leis imutáveis do Universo. Os seres encarnados fazem parte da manifestação, mas eles não são a parte manifestada, isto é, o corpo, a mente, os sentidos. Eles são a Essência Divina. O mundo físico é temporário e, por isso, os desejos que despertam ilusões mundanas estão condenados a desfazer-se. É somente pelo controle dos desejos que a mente pensante é aniquilada. Somente com a ausência da mente é possível viver em harmonia com todos os seres do Universo. A sintonização constante com a Eterna Consciência do Cosmo é o principal objetivo na vida e ninguém poderá viver em perfeita felicidade se não se harmonizar com tudo que o cerca.


Espiritualidade e Trabalho


Se a pessoa segue o caminho da conscientização espiritual, ela deve fazer um paralelismo nas suas ações. Nada pode ser feito de mais nem de menos. Tudo deve ser equilibrado para se evitarem as desarmonias. Aquele que se ocupa apenas com a espiritualidade externa age com desequilíbrio, movido apenas por fanatismo, e pode vir a deixar de trabalhar. Isso é ruim, porque o trabalho é a eterna ação, e não pode deixar de existir. A espiritualidade, quando for externa apenas, é perigosa. Num caminho espiritual, o ritual externo e as disciplinas são úteis à pessoa, mas quando se transformam num fim em si mesmos há problemas. A pessoa nada mais faz além disso, não provê seu próprio sustento e por isso abusa da boa fé alheia, pedindo aos demais que a sustentem, ou então morre de inanição.

A Índia, por exemplo, é, aos olhos do mundo, bastante desapegada dos valores materiais. Muitos pensam ser ela um país essencialmente espiritual. No entanto, infinidade de pessoas apenas se arrastam de um lugar a outro, nos ashrams e lugares considerados sagrados. Passam a maior parte do tempo fazendo isso e não trabalham. Muitos não têm o que comer e por isso carecem do equilíbrio orgânico. A verdadeira espiritualidade não está em a pessoa arrastar-se para esse ou aquele local sagrado. O local sagrado é no lado direito do peito, pois é onde o divino se reflete. Pode-se considerar que um ashram é um lugar sagrado. Todos os lugares onde se medita e devociona são sagrados. Não é necessário que se vá a locais especiais para se adquirir algum tipo de espiritualidade.

Perguntavam a Bhagavan Sri Ramana se banhos no rio Ganges, defumação, pintura na testa e outros sinais externos de espiritualidade trazem a autolibertação. E Ramana sempre respondia que isso não liberta o homem da ignorância espiritual, mas pode ajudar na jornada rumo à conscientização do divino. Um sábio como Bhagavan Sri Ramana não iria discordar de um povo que é altamente ritualístico em sua tradição a respeito do caminho espiritual. Nenhum Mestre interfere no caminho que as pessoas trilham, por mais estranho que esse caminho pareça ser. Ele só orienta e responde àquilo que lhe é perguntado. É evidente que é muito mais valioso meditar e devocionar que ficar com um rosário fazendo novenas. Porém há pessoas que nem novenas fazem. Na Índia, por exemplo, há algumas técnicas como a de usar uma rudra de cento o oito contas e com ela recitam-se cento e oito vezes os mantras, por infinidades de vezes. Isso realmente ocupa a mente, acalmando-a, mas é uma espiritualidade externa. É uma disciplina, uma espécie de penitência. Isso não é totalmente infrutífero. Pode ajudar, como disse Bhagavan Sri Ramana, mas não traz a conscientização da Verdade Suprema.

Todas as práticas são sagradas se a pessoa é sincera na busca espiritual, já que ela tem si mesma o lugar sagrado, ou seja, todas as práticas, embora externas, devem ter origem no lado direito do peito. Só assim serão frutíferas. Porém, se forem simplesmente repetidas para outras pessoas verem, ou porque esse é um caminho adotado por ser, talvez, o mais fácil, não significa que a pessoa se conscientizará um dia do Ser Supremo.

Bhagavan Sri Ramana e Mahatma Gandhi trouxeram para os homens, e em especial para o povo da Índia, a idéia de que se deve praticar o paralelismo nas ações. Só a espiritualidade ou só o trabalho não funciona. Porém, o trabalho sempre dignifica e a falsa espiritualidade danifica. Entre uma falsa espiritualidade e o trabalho, é preferível o trabalho, porque a falsa espiritualidade faz com que o homem minta para si mesmo e também para os outros, causando-lhes muito mal. Com o trabalho isso não acontece, pois ele é a força dinâmica que flui do Eterno Criador. Ele contribui para que o homem mantenha o equilíbrio, superando os estados de desânimo, fraqueza e ociosidade. O homem é infeliz quando se recusa a trabalhar. Se todos trabalhassem naturalmente, jamais existiriam desarmonias e nunca se ouviria falar em guerras ou rumores de guerras. A paz vem da vontade de trabalhar, pois através dela o homem adquire a sabedoria, o discernimento e é impelido a procurar o divino em si mesmo. O trabalho é um processo natural de autolibertação, ajudando o homem a viver na consciência pura, no amor universal e na felicidade perfeita.

É imprescindível que a pessoa aja sempre com equilíbrio. No Brasil isso acontece. O povo brasileiro segue um caminho espiritual e também trabalha. Não se pode querer apenas espiritualizar-se e abandonar o trabalho. É preciso manter tudo em equilíbrio. Se se seguir apenas o materialismo ou o espiritualismo haverá problemas. Muita matéria é ruim. A falsa espiritualidade também é ruim. No Ocidente acontece, geralmente, o extremo materialista. Há muitos prédios, muita poluição, cidades muito cimentadas, a luta violenta pela sobrevivência. Há, de fato, grandes problemas. Acredita-se que nesta época exista muito progresso, muita tecnologia. O que existe nessa área é ridículo, pois tudo está impregnado pela desarmonia humana. Está tudo poluído. Não existe quase nada no campo tecnológico que possa ser usado positivamente. O homem não tem evolução para isso. De que adianta se ter um grande computador se as pessoas agem com maldade? O ser humano pensa que é evoluído, mas isso não passa de uma ilusão, de um pensamento apenas.

É necessário trabalhar, meditar e devocionar, viver naturalmente. O homem do campo vive em estado natural. É preciso aprender com ele. Hoje em dia, quem tem uma enxada está melhor que aquele que diz viver no progresso, com muita tecnologia, pois o mundo está sendo aniquilado por esse pseudo-progresso. Se o homem do campo deixar de plantar, como os que moram nas cidades sobreviverão? Fala-se muito em desenvolver tecnologia, mas do que realmente o ser humano necessita é o alimento que o sustenta. Não se come o computador, os transístores, os cabos, os bancos de dados. O homem criou uma situação muito estranha para si mesmo. Dá valor às coisas supérfluas e esquece o que lhe possibilita a própria sobrevivência. Ele se esquece de que aquilo que lhe permite sobreviver vem do campo, dos animais, como a vaca, por exemplo, que lhe doa o leite e que se sacrifica para que ele coma a sua carne. Muitos se esquecem disso. Aquele que não aprender a plantar como o homem do campo faz, não sobreviverá na Terra. Não há tecnologia que o faça sobreviver. Ele comerá o quê? Grandes usinas? Aquele que pensa que possui grande tecnologia deve observar que ela não serve para nada no momento em que ele precisa comer, beber. Se o homem do campo deixasse de produzir os alimentos, aqueles que moram em cidades em pouco tempo ficariam possessos devido à fome.

O homem é levado a acreditar que precisa de toda essa tecnologia. Nesse ponto ele começa a vender idéias, um para o outro, e aí iniciam-se todos os problemas e o afastamento do caminho natural, espiritual. As pessoas começam a comprar idéias veiculadas pela televisão, pela propaganda, e imaginam que precisam de muitas coisas. Todas deveriam aprender a produzir sua própria alimentação, aquela que hoje em dia comodamente compram no supermercado. Tecnologia nenhuma evitará as catástrofes que estão profetizadas e que já estão acontecendo. Nenhuma tecnologia será capaz de parar os maremotos, os terremotos, as erupções vulcânicas, os vendavais. Nenhuma tecnologia será capaz de parar a verticalização do eixo da Terra ou afastar o planeta intruso que dela se aproxima. O homem sabe explodir bombas sobre seres inocentes. Isso ele faz muito bem com a sua tão cultuada tecnologia. Essa mesma tecnologia ele usa nos hospitais para salvar vítimas.que possuam muito dinheiro. Será que alguém que seja pobre usufrui do mesmo progresso tecnológico num hospital? Então a tecnologia não serve para nada. O que falta no planeta Terra é amor entre as pessoas. É preciso que devocionemos bastante para que se abra um canal e, através dele, essa virtude divina volte e tocar os corações dos homens.


Autoconscientização


Aquele que insiste em viver na ignorância espiritual nunca se liberta do sofrimento. É preciso que o homem sinta que ele e o Ser Supremo são um só. O conceito de dualidade deve ser dissolvido. Isso pode ser conseguido pelas constantes práticas da meditação e devoção iniciáticas. Quando há a conscientização da unidade com o Ser Supremo todos os resultados das ações praticadas durante os longos ciclos de nascimentos e mortes são aniquilados. Os que seguem os ensinamentos do Consolador libertam-se de todos os apegos; eles renunciam aos prazeres, são perfeitamente controlados, são pacíficos. Da firme convicção de se ter como verdadeira identidade o Ser Universal nasce o conhecimento supremo. Somente assim a ignorância espiritual é destruída. O êxito, porém, depende essencialmente do praticante, que deverá seguir, sem restrições, toda orientação dada pelo Mestre.

No caminho direto da autoconscientização o homem permanece livre da ignorância espiritual. Ele aprende a controlar seus pensamentos, suas ações e sua vida. Só a pureza, a Verdade e a beleza acham lugar em seu coração, pois não mais é atraído pelas coisas mundanas, pelos falsos ensinamentos, pelos pseudomestres. Vive em harmonia constante consigo mesmo e com todas as coisas da criação. À medida que avança nesse sagrado caminho sente uma liberdade de palavras e ações que surge como uma atitude automática através das práticas iniciáticas que o Consolador lhe ensina. Essa liberdade existe em cada homem, e vem à tona quando ele deixa de viver enclausurado pelo mundo das convenções ortodoxas daqueles que dirigem a humanidade. É preciso viver sempre no silêncio que traz a sabedoria suprema e estabelecer-se no eterno, sem sentimento de individualidade, e jamais se deixar envolver por qualquer sensação de prazer ou dor, bem ou mal, tristeza ou alegria. Deve-se estar sempre em plenitude de conhecimento supremo e saber que nada mais existe além do Divino Ser Universal.

Quem se conscientizou da Verdade Absoluta está livre de coisas mutáveis, pois transcendeu todo falso conhecimento através da intuição pura despertada pelas técnicas espirituais iniciáticas. Com o pleno conhecimento o homem pode perceber que todo erro, todo mal e seus conseqüentes sofrimentos não têm outra origem senão a mente pensante.

É preciso retornar ao estado natural, agir em harmonia com toda a manifestação. É fácil observar a grande harmonia da natureza. As plantas, por exemplo, vivem nesse estado. Elas nascem, crescem, florescem e dão o seu fruto. As pessoas, porém, esqueceram-se de que são divinas em essência e de que devem viver naturalmente e esforçar-se para transcencer a parte ilusória. A mente, o corpo e os sentidos são ilusórios, servem apenas como meios para se viver consciente da verdadeira natureza, a divina, que é a única realidade existente. Agora, mais do que nunca, os homens devem trazer à tona os seus reais valores; devem deixar que a intuição pura tome o lugar da mente pensante através da meditação silenciosa.

Agora todos podem conscientizar-se da Verdade Suprema, pois o Consolador já está presente na Terra. Depende de cada pessoa procurá-la em si mesma. Para isso basta iniciar-se no caminho direto da auto-conscientização. Dessa maneira não mais haverá guerras no mundo, pois o importante não é vencer a outra pessoa, mas os falsos personagens que estão no seu próprio psiquismo. Aquele que toma consciência dessa Verdade vence a ignorância espiritual.

(Extraído do livro "O Consolador", de Sri Maha Krishna Swami)


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